PESSOAS ALTAMENTE SENSÍVEIS TÊM AUTISMO?

PESSOAS ALTAMENTE SENSÍVEIS TÊM AUTISMO

PESSOAS ALTAMENTE SENSÍVEIS TÊM AUTISMO?

A alta sensibilidade é denominada de Transtorno do Processamento Sensorial (TPS). Trata se uma condição em que, tanto o cérebro, quanto o sistema nervoso apresentam dificuldades para processar estímulos do ambiente e os sentidos. Luz, som, odores podem incomodar. É comumente confundido com o TEA (Transtorno do Espectro Autista). Pacientes diagnosticados com TEA podem ou não apresentar TPS.

O Transtorno do Processamento Sensorial é diferente do traço PAS (Pessoas altamente Sensíveis) mas é comumente confundido.  PAS não é um transtorno, mas sim uma estratégia de sobrevivência, onde se processa informações de forma mais completa do que os outros. Isso pode levar a uma superestimulação e, possivelmente, a esforços para se proteger contra isso, ou seja, há vantagens e desvantagens.

O Transtorno de Processamento Sensorial é um distúrbio neurológico. Envolve os sentidos, o sistema vestibular, controle motor, equilíbrio e consciência espacial, e faz com que as informações sensoriais se “misturem” no cérebro, resultando em respostas inadequadas. Isso inclui processamento aleatório e desorganizado de estímulos externos e pode causar grande angústia, intensidade e supestimulação. Essa supestimulação às vezes é confundida com a superestimulação que as PAS  claramente experimentam, mas deve-se observar que a causa raiz não é a mesma.

Assim como o autismo, que é cada vez mais visto como um traço saudável, ser uma altamente sensível não é doença, na verdade é uma característica encontrada em até 20% da população.

 O que há de comum entra PAS, TEA E TPS é a alta sensibilidade, mas a origem difere. Neste artigo vamos focar nas diferenças entre TEA E PAS. Um estudo mostra que eles são profundamente diferentes – e que a alta sensibilidade também não está relacionada a vários transtornos, como esquizofrenia e TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático). Isso sugere que ser uma pessoa altamente sensível é uma característica normal e saudável. A seguir eu trago os principais pontos desse estudo. 

O que diferencia o autismo da alta sensibilidade?

O estudo, liderado pela Dra. Bianca Acevedo do Neuroscience Research da Universidade da Califórnia, é uma análise minuciosa de 27 artigos comparando alta sensibilidade, autismo e outras condições. (Você pode ler o estudo aqui). O trabalho se refere à alta sensibilidade pelo seu nome formal: Sensibilidade do Processamento Sensorial ou SPS. Acevedo e sua equipe encontraram três diferenças principais entre PAS e o Transtorno do Espectro Autista.

1. O autismo vem com “déficits sociais”; a alta sensibilidade não.

A pesquisa de Acevedo observou que o autismo vem de mãos dadas com os chamados “déficits sociais”, como dificuldade de fazer contato visual, reconhecer rostos, responder aos estímulos emocionais  e retribuir as intenções de outra pessoa.

Para SPS, ocorre exatamente o oposto. Pessoas altamente sensíveis não apresentam déficits sociais; na verdade, eles tendem a serem altamente receptivos às necessidades sociais, expressões faciais e às intenções dos outros. 

Já para as PAS, além de incluir essas características das SPS, destacamos da mesma forma, o alto nível de empatia, consciência social e autorreflexão.

2. Para pessoas altamente sensíveis, as situações sociais são (extra) gratificantes.

Os seres humanos, em geral, são programados para considerar as interações sociais gratificantes. Isso nos encoraja a formar laços fortes, ajudar uns aos outros e cooperar uns com os outros; inclusive, sempre foi a chave para nossa sobrevivência. Pessoas altamente sensíveis não são exceções e podem até responder com mais intensidade às interações sociais do que outras – sentindo-se em qualquer lugar, desde acalmadas a totalmente alegres com uma interação positiva. Muito embora para as PAS isso pode sobrecarregar seu sistema nervoso devido a alta percepção e processamento das informações.

Pessoas com autismo, no entanto, vivenciam as interações sociais de forma diferente. Para eles, o estudo de Acevedo aponta simplesmente que não há tanta sensação de recompensa/gratidão, calma ou emoção envolvida na socialização. Uma troca com outra pessoa pode chamar sua atenção, mas não necessariamente parecer significativa. O estudo diz que isso afeta ainda mais sua capacidade de responder apropriadamente aos outros.

Os indivíduos autistas são capazes de formar relacionamentos profundos e significativos com pessoas. A diferença está em quão gratificante eles acham a interação social, por si só. Embora seja extra gratificante para PAS, é menos gratificante para pessoas autistas, segundo o estudo.

3. Seus cérebros lidam com os estímulos de maneiras consideravelmente diferentes.

Dado que tanto PAS quanto indivíduos autistas podem ser extremamente sensíveis a estímulos, não é surpresa que eles compartilhem algumas áreas de alta atividade cerebral em comum – especificamente áreas relacionadas à atenção e reação (física ou mental) aos estímulos, mas é aí que terminam as semelhanças na atividade cerebral.

O cérebro altamente sensível, por exemplo, mostra níveis de atividade acima do normal em áreas relacionadas à calma, equilíbrio hormonalautocontrole e até mesmo pensamento autorreflexivo (a capacidade de processar as próprias ações e sentimentos e chegar a um nível mais profundo). Isso está relacionado com um maior nível de empatia e profundidade de processamento que definem alta sensibilidade. Todos esses são traços positivos e úteis ou podem ser bons ou ruins, dependendo da situação. Além de que todos eles contrastam fortemente com o cérebro autista que Acevedo ressalta ser menos ativo quando se trata das regiões cerebrais relacionadas à calma, emoção e sociabilidade.

PAS, ESQUIZOFRENIA E TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO (TEPT)

A alta sensibilidade também é, às vezes, comparada – erroneamente – a vários transtornos mentais. Os maiores são esquizofrenia e transtorno de estresse pós- traumático (TEPT). Essas duas condições têm pouco em comum (uma com a outra ou com ser um PAS), mas todas elas podem envolver um aumento da sensibilidade a estímulos sensoriais.

Para começar, a esquizofrenia tem ainda menos em comum com alta sensibilidade do que o autismo. Como o autismo, ele vem sem qualquer empatia aumentada ou autorreflexão que as PAS exibem e, ao contrário do autismo, não tem quase nada em comum com alta sensibilidade quando se trata de atividade cerebral. 

Além disso, embora não seja mencionada no estudo, a esquizofrenia não controlada causa quase inevitavelmente grandes problemas na vida e nos relacionamentos de uma pessoa; a alta sensibilidade não.

O TEPT é um pouco mais complicado, porque pessoas altamente sensíveis podem ter maior risco de desenvolver TEPT se passarem por algum tipo de trauma. Mas os pacientes de TEPT não mostram nenhuma atividade intensificada em áreas relacionadas à calma, autocontrole ou consciência social que as pessoas altamente sensíveis apresentam, e eles sofrem uma variedade de sintomas que as PAS sem trauma não apresentam. As interrupções no cérebro de um sofredor de TEPT, por exemplo, tendem a afetar sua memória e sua capacidade de integrar novas informações. Essas habilidades – e a capacidade de processar informações em geral – são pontos fortes para uma pessoa altamente sensível.

Alta sensibilidade pode ser uma vantagem evolutiva…

O que é fascinante na pesquisa de Acevedo  não é apenas mostrar que  alta sensibilidade  e autismo são diferentes ou que ser uma PAS é “saudável” ou “normal”. Este estudo constata que a alta sensibilidade é altamente benéfica e existe de fato, é uma condição comprovada.

PAS tem atividades cerebrais aumentada em regiões úteis;  uma forte associação com traços de personalidade desejáveis e até mesmo uma tendência para um comportamento positivo, útil e pró-social.Acho que a própria conclusão do estudo diz isso melhor: “Sugerimos que as estratégias PAS adaptativas envolvendo empatia, consciência, calma e autocontrole fisiológico e cognitivo podem servir a uma espécie, facilitando a integração profunda e a memória para informações ambientais e sociais, o que pode, em última instância, promover sobrevivência, bem-estar e cooperação.”  Em outras palavras, sua alta sensibilidade pode ser uma vantagem evolutiva – que ajuda toda a humanidade, mas é necessariamente treinamento, normalmente. É preciso aprender a lidar com a alta sensibilidade, processamento de informações e empatia profunda. Há muita pressão social para o “endurecimento”, onde a alta sensibilidade é vista como um defeito e não como uma vantagem. Fico feliz em colaborar, trazendo informações sobre PAS no Brasil.

Referências consultas
https://www.psychologytoday.com/us/blog/highly-sensitive-refuge/201905/do-highly-sensitive-
people-have-autism


https://hsperson.com/faq/spd-vs-sps/

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